I'm happy to announce that I've opened up the blog to guest posts!
On a whim, I emailed a reader who left a really intelligently written comment somewhere, and he emailed me back this explanation about Brazilians that was so simple and lucid that I felt like a light bulb was flashing above my head.
While I'd noticed some of these concepts, I'd never visualized them all together and thought about how they're connected. I really enjoyed this explanation of the "cordial man" and how this concept influences social relationships in Brazil.
It explained so much: why people seem to befriend each other so much more easily, why people converse with total strangers like it was the most natural thing in the world, why Brazilians are so much more informal in day-to-day social interactions, about the jeitinho and nepotism, and about why Brazilians are sensitive to criticism (including my own).
Read more after the jump.
Today's guest post is by R.M.F., a Brazilian expert in literature. Thank you so much for the explanation!
I've provided his original Portuguese text, because my brain is completely fried from translating all week. If anyone's up for translating it to English, feel free. Otherwise, I'll try to translate it in the next day or two.
O homem cordial
Essa ideia de "homem cordial" foi formulada pelo Sérgio Buarque de Hollanda, que foi pai do Chico Buarque, no livro Raízes do Brasil. Ele propõe uma leitura da formação do Brasil como uma espécie de apagamento das fronteiras entre o público e o privado. Dessa forma, nós tendemos a criar uma intimidade que é às vezes desrespeitosa com as pessoas, como se todos fossem da mesma família. Por isso você nunca será conhecida aqui como Glickhouse, mas quase exclusivamente como Rachel, já que somos todos quase da mesma família, entende? É assim com as celebridades também, com o Ronaldinho, com o Caetano, com a Grazi, com o Fernando Henrique: é a república dos prenomes.
Ele credita essa espécie de proximidade quase obrigatória com as
pessoas aos anos de estrutura colonial no Brasil: as famílias dos donos
de escravos eram extremamente próximas, inclusive emocionalmente, das
famílias dos negros escravizados. Isso fez a relação de poder ficar
bastante deturpada sem deixar de existir: os donos ainda mandavam e os
oprimidos ainda obedeciam, mas as crianças cresciam e brincavam juntas,
os negros eram amigos de seus senhores... Aí surge a noção de
cordialidade: toda relação deve ser uma amizade, porque ela seria "boa"
para os dois lados.
Mas não é bem assim, porque isso traz mais política para relações que deveriam ser simples e mais transparentes, pois os que têm melhores amigos têm chances melhores que os que não têm, e isso está ligado ao famoso "jeitinho" - que é a forma obscura, levemente fraudulenta ou improvisada de resolver um problema. Esse tipo de amizade, que possibilita alguns jeitinhos, é sincera e interessada ao mesmo tempo! Mesmo enquanto brasileiro ainda fico confuso: conheço pessoas próximas (meu pai, meu irmão e meu melhor amigo) que costumam fazer amizade com pessoas aleatórias, como o lixeiro, o vendedor de passagens de ônibus ou o entregador de pizza porque "nunca se sabe quando precisaremos de um favor". O mais estranho é que não é só para isso! Essa amizade ainda é essencialmente amizade, apesar de tudo. É bizarro, eu sei!
Então isso explica o surto dos seus leitores no post da Amazônia... Eles sentiram que uma irmã/amiga (a Rachel da família, não a Rachel Glickhouse que escreve artigos críticos) os tinha traído... E com família próxima você sabe como é... a gente fala o praticamente o que passar pela cabeça!... E como assim? Eles investiram tanta amizade, poxa! Sempre foram cordiais... Achavam que você era uma amiga e que ia preservá-los de "falar mal" deles. (Sabemos que você somente emitiu uma opinião bastante razoável, no entanto.)
A língua inglesa dá uma impressão super elegante para o latim, então dizer "a cordial reception" parece a chegada a um jubileu, a uma festa riquíssima! Mas a mesma expressão, com palavras que vêm do germânico e não de raiz latina, lembra um churrasco de família numa cidadezinha do Texas: "a hearty welcome!". Isso é para explicar que a noção de cordialidade do Brasil está mais perto do "hearty" do que do "cordial" em inglês.
É muito coração! Aqui em São Paulo acho que a coisa é ainda mais grave por causa da imigração maciça de italianos. Todos os meus amigos e minha namorada são de família italiana e são todos ainda mais "coração" (essa palavra tem a mesma raiz de cordial) que a média do país... O Brasil é uma sensibilidade sem fim. Tendo estado em salas de aula a minha vida toda (estou para entrar no doutorado agora) eu posso garantir: receber uma crítica, intelectual ou não, é algo grave para muitos brasileiros, principalmente as mulheres. Muita gente procura evitar críticas tentando ser amigo de todos, inclusive dos professores. Como sei que você deu aulas de inglês, provavelmente deve ter experimentado tentativas de amizade "cordial".
Brilliant!
It explains a lot indeed...
Posted by: Ray Adkins | March 13, 2009 at 03:06 AM
É, é isso mesmo. O cara matou a pau.
Merece um link permanente na primeira página; =D
Posted by: Rafael | March 13, 2009 at 04:39 AM
I loved it when he said "O Brasil é uma sensibilidade sem fim." Maybe that's why professors at Brazilian universities write no comments when they grade essays. All we get is a mark with no written explanation... I was amazed when I got my first essay back at a Canadian university with a full page of comments. Luckily, I'm very unbrazilian in that sense - I don't take anything personally...
Posted by: Alexandra | March 13, 2009 at 10:55 AM
Isso de tentar explicar tudo o que acontece no Brasil, pelo que aconteceu na colonização é muito exagerado,é preciso lembrar que quase metade da população brasileira só passou a chegar após a 2 guerra mundial e eles não sofreram a influencia direta da escravidão. Quanto a informalidade, isso é algo comum em toda america latina, tem haver tb pelo colonização que sofremos (portugueses,espanhois,italianos)e não de alemaes e pessoas do leste como nos EUA.Discordo quando ele fala que não gostamos do que vc falou sobre a amazonia por a considerarmos nossa "amiga",nós brasileiros sempre sofremos com a interferência americana e a discussão sobre a amazônia representa mais uma dessa possibiidade.
Posted by: anonimo | March 13, 2009 at 11:29 AM
as all explanations that focus on only one aspect, this is quite a simplistic view. It explains some traits better than others. It explains SOME BRAZILIANS better than others.
The "cultura de favores" is part of politics everywhere in the world. But I agree that in Brazil its more spread out among everybody.
Posted by: RogerPenna | March 13, 2009 at 12:18 PM
Roger,
You are correct about the "cultura de favores", there is a lot of that going on around the Northeastern US, maybe is the strong Italian influence? Who knows, but it definitely happens in New York, Boston and Philly...
Posted by: Ray Adkins | March 13, 2009 at 02:54 PM
Any chance that you could translate this into English? I can sort of read Portuguese but it's a struggle and it seems like a very interesting post.
Posted by: Tim | March 13, 2009 at 02:59 PM
Ray, not to mention in other countries.
"one hand washes the other".
i wonder to came first, the egg or the chicken: brazil has these strong negative traits because its a poor country, or is Brazil a poor country because of these strong negative traits?
ps: in my evolutionist view, the egg came before the chicken. Just in case anyone decided to point that out to me :)
Posted by: RogerPenna | March 13, 2009 at 05:19 PM
Living in Canada made me think more about my country, and then I started asking why are we the way we are? Reading "A viagem do elefante" from the Nobel prize Jose Saramago (who is Portuguese,)I came across a very interesting paragraph that shows exactly the "Brazilian sensibility" you are talking about, but on this book, Saramago is talking about the king of Portugal (century XVI) who gave an elephant to the the archduke of Austria. The subjects of Portugal were supposed to bring the elephant to Valladoid in north-central Spain, but first they should meet the archduke of Austria at the border of Spain, so people from both countries would take the elephant to Valladoid together, but the archduke disagreed and commanded the subjects of the king of Portugal to come back to Lisboa; the archduke would take the elephant by himself. Portugal and Austria started arguing and this is what Saramago says (the captain he's talking about is the captain of the Austrian Army):
"Outros, achando igualmente incompreensível a atitude desistente do capitão, consideravam que o primeiro erro fora chegar ao castelo e, sem mais nem menos, impor, Passem para cá o elefante, que não temos tempo a perder. Qualquer austríaco, nascido e criado na europa central, sabe que num caso como este haveria que saber dialogar, ser amável, interessar-se pela saúde da família, fazer um comentário lisonjeiro sobre o bom aspecto dos cavalos portugueses e a majestade imponente das fortificações de castelo rodrigo, e depois, sim, como quem subitamente recorda haver mais um assunto a tratar, Ah, é verdade, o elefante."
It is known that we have in Brazil a huge influence from the Italian and Portuguese; maybe this explains partially why we are so sensitive. From the text above you can see that we are not alone, Portuguese are so sensitive as we are (guardadas as devidas proporções).
Posted by: jeanne | March 13, 2009 at 06:55 PM
Interessantíssima a explicação, Rachel. Obrigada por tê-la colocado aqui.
Posted by: Isabella Laterman | March 13, 2009 at 07:11 PM
"Isso de tentar explicar tudo o que acontece no Brasil, pelo que aconteceu na colonização é muito exagerado,é preciso lembrar que quase metade da população brasileira só passou a chegar após a 2 guerra mundial e eles não sofreram a influencia direta da escravidão. "
Isso eh verdade em termos - mas o fato da cultura brasileira assimilar tao rapidamente estrangeiros - vc pode "virar" brasileiro (nao estou falando em termos legais) morando so alguns anos no Brasil, coisa impossivel de se ocorrer nos EUA mesmo depois de geracoes - faz com que esses elementos culturais se perpetuem mesmo nos descendentes de alemaes, ucranianos, japoneses, etc... e outras nacionalidades teoricamente mais "logicas" e "racionais".
Eu cresci em Curitiba e em geral, desde o primario ate a faculdade, mais da metade dos meus colegas sempre foram descendentes de ucranianos, poloneses e alemaes. Mas todos eles agem exatamente igual ao brasileiro normal - emotivo, sensivel e nao racional.
E no final que foi morar fora por nao aguentar toda essa emotividade foi eu - o descendente de portugueses, espanhois, negros e indios.
Posted by: Marcio E. Goncalves | March 13, 2009 at 07:16 PM
Marcio,
E porque voce herdou o "racional" dos seus descendentes.
Parabens
Posted by: me | March 13, 2009 at 07:30 PM
Alexandra, I'd always get my essays back with comments when I was in university (not so much during my post-graduation courses), teachers would underline parts, suggest changes... I just don't think it's safe to generalize in this case, it's hard to tell what happens in all of our schools. But I do get feedback more consistently from my Canadian teachers, there's always a note back even if it's just to say great, keep going that way etc.
Posted by: Silvia | March 13, 2009 at 08:15 PM
The best explanation of the "cordial man" theory I ever got was from Prof. Dr. Gilberto Velho. He reads Brazilian cordiality as the opposite of Japanese politeness.
Politeness is a reaction to intensely formalized and overcrowded living consitions. It creates a psychic box which allows the individual to have some privacy. Cordiality, on the other hand, is a reaction to an intensely hierarchized and divided social world which needs day-to-day interactions between persons of manifestly different social statuses in order to function and survive. It allows one, in Gilberto's words, to crawl up on the lap of someone more powerful, adjust their tie, and ask, pretty please, for a personal, special dispensation from the established rules.
Gilberto's great example of this was when he was on a federal education board during the Fernando Henrique Governement. FHC, as most of you know, was a sociology prof before getting into politics and he was an ex-colleague or professor of almost everyone in the room. So you had the sublimely surreal spectacle of a bunch of school teachers going up to the President of the Republic, patting him on the belly, pinching him on the cheek and saying things like "Gettin' kinda heavy there, neh Fernando?" before hitting him up with their project's funding needs.
Talk abour lesse majesté...
By the way, I always try to give my students written feedback on their essays. When I don't, it's not because of some cultural thing but because I'm either too lazy or too overworked.
And, more often than not, my students ASK for feedback if I don't give it to them.
Posted by: Thaddeus Blanchette | March 14, 2009 at 08:39 AM
Marcio,
O meu comentario acima foi un elogio.
Posted by: me | March 15, 2009 at 12:30 PM